quinta-feira, 19 de maio de 2016

Considerando os temperamentos na educação dos filhos

Um dos grandes bens que a educação domiciliar proporciona é a individualização do ensino. Cada aluno possui características próprias que fazem com que o aprendizado seja mais eficiente se forem considerados tais atributos no processo de aprendizagem. Há crianças que precisam estar sob vigilância constante, enquanto outras trabalham melhor de forma mais independente. Há alguns que passam horas estudando um único tema, já há outras que precisam mudar de objeto de estudo ou usufruir de frequentes intervalos durante o dia. São inúmeras as características que devemos considerar. Isso parece ser bastante evidente para quem já se aventurou em educar, mas o que não é nem um pouco óbvio é conseguir identificar as características do aluno e a melhor forma de ensiná-lo. Pais atentos que educam os filhos em casa naturalmente vão percebendo essas características com o passar do tempo, ainda que muitas vezes essa percepção seja falha ou muito lenta. Ouvimos relatos de pais que tiveram que tentar diversas formas de ensinar e, somente após várias tentativas, descobriram como o filho aprende melhor. Nosso caso não foi tão diferente. A Juliana demorou um tempo para compreender como o Victor Hugo assimilava melhor o conteúdo. Para isso, tivemos ajuda que todos os pais que educam seus filhos em casa deveriam levar em conta, pois encurta bastante o trabalho: a identificação do temperamento da criança.


Já tínhamos ouvido o Rafael Falcón e a Camila Abadie alertando sobre a importância da identificação do temperamento dos filhos para ensiná-los, mas foi a partir do texto “Os Temperamentos”, indicado pelo Rafael Brodbeck no curso “Como Catequizar seus Filhos em Casa”  que passamos compreender a importância de saber o temperamento tanto dos pais quanto dos filhos para melhor educá-los. Não vamos aqui descrever detalhadamente os temperamentos, mas gostaríamos de mostrar o quanto essa descoberta tem sido importante para nossa família, não só na educação do Victor Hugo, mas no relacionamento familiar e na nossa própria autoeducação.

Os quatro temperamentos foram identificados ainda na Grécia antiga, provavelmente por Hipócrates. Não é uma moda da psicologia moderna, tampouco um conhecimento exotérico. Todos nós temos um dos quatro temperamentos ou um misto deles, mas apenas um exerce sobre nós influência preponderante. São eles: colérico, sanguíneo, melancólico ou fleumático. Cada um desses temperamentos apresenta uma série enorme de características e particularidades que torna fácil de identificá-lo em nós mesmos ou nas pessoas com quem convivemos. Entretanto, todos esses atributos são consequência de como cada um reage a um estímulo, de como cada temperamento responde a uma ofensa, um elogio, um fato triste, uma conquista, uma derrota, etc. Apresentamos abaixo, de forma resumida, alguns aspectos dos quatro temperamentos. Nossa intenção com esse texto não é descrever os pormenores de cada temperamento, muito menos oferecer um curso sobre o tema, mas somente dar um testemunho de como esse conhecimento tem ajudado a nossa família e encorajar as demais famílias a estudar um pouco sobre o tema.


TEMPERAMENTO COLÉRICO

O colérico costuma excitar-se rapidamente e longamente diante de estímulos. Isso significa que ele se interessa muito fácil por algum assunto ou acontecimento e esse interesse permanece por longo tempo. Da mesma forma, ele costuma se irritar, magoar ou se alegrar facilmente e tais sentimentos permanecem por longo tempo na alma do colérico. Quem educa um colérico goza de uma certa facilidade, pois eles são mais independentes. Ao se interessar por um tema, eles vão a fundo em suas pesquisas sem que o tutor tenha que ficar cobrando, explicando ou incentivando. O educador do colérico deve ser aquele que indica ao pupilo o que estudar, deve apresentar desafios, deve excitá-lo e tomar sempre o cuidado para que ele não tome o caminho errado. Devido à rápida excitação e à persistência típicas do colérico, eles tendem aos extremos: ou são empreendedores de grande sucesso ou empresários falidos; ou são grandes santos ou grandes pecadores; etc.  Em nossa casa, a Juliana é a colérica. Saber disso nos ajuda a lidar com seus momentos de irritação e de grande alegria. Hoje eu entendo por que ela fica brava ou irritada com as mínimas coisas e essa compreensão faz com que eu releve muitas coisas que ela diz e me permite ajudá-la a não transformar o temperamento em causa de pecado.


TEMPERAMENTO SANGUÍNEO

O sanguíneo é aquele que se excita rapidamente, mas que logo se arrefece e já concentra suas emoções em outros novos estímulos. Por exemplo, se alguém ofende um sanguíneo, ele fica muito chateado no momento, mas rapidamente esse sentimento some, pois ele já está preocupado com outra coisa. Essa velocidade com que a excitação vai embora gera problemas tanto na educação moral quanto na instrução técnica: as reprimendas não surtem efeito e seu interesse por um tema desaparece de uma hora para a outra. Esse é o caso do Victor Hugo. Como a Juliana é colérica, é normal ouvir as broncas que ela dá no Victor e é decepcionante ver que depois de um minuto ele já esqueceu a repreensão e está pronto a cometer o mesmo erro novamente. Portanto, aprendemos que não adianta ficar bravo com ele, mas que é muito mais eficiente fazermos com que ele sofra as penas de seus erros ao longo do tempo. Para os afazeres diários é necessário ter paciência, repetir todos os dias aquilo que ele deve fazer, até que, depois de muita insistência, torne-se um hábito.

O sanguíneo também é muito facilmente influenciado, para o bem ou para o mal. Já tínhamos percebido essa característica no Victor Hugo e o perigo que ele corria sob influências de más amizades e de professores doutrinadores. Esse foi um dos motivos para decidirmos começar a educação domiciliar imediatamente.

Na instrução técnica, o problema do sanguíneo é que ele muda de interesse a cada momento e assim torna-se muito difícil de aprofundar-se em uma matéria, de refletir a longo sobre um tema. Por isso, nós temos que ser muito insistentes com o Victor Hugo e força-lo a continuar se dedicando a algo que não desperta mais o seu interesse como anteriormente. Notamos que existe uma linha tênue que separa o respeito ao temperamento dos filhos à conivência com o erro provocado pelo temperamento.  Portanto, eu não posso exigir que o Victor Hugo reflita sobre um tema com a mesma profundidade que um melancólico, mas também não posso deixa-lo à mercê dos ventos de seus interesses, sob pena de fazer com que ele nunca seja bom em coisa alguma, nem moralmente e nem tecnicamente falando.


TEMPERAMENTO MELANCÓLICO


O melancólico, que é o meu caso, é difícil de ser excitado, mas quando algo o comove, o estímulo dura por muito tempo. Longas e profundas reflexões são típicas do melancólico, o que pode ajudar muito na vida de fé e estudos, mas que tem o mesmo poder de transformá-lo em uma pessoa cheia de remorsos, pessimista e triste. O melancólico é calado, lento e apático. Não podemos esperar pro-atividade dele. Ainda que normalmente seja possuidor de talentos, é difícil fazer com que ele se mova ou tome alguma iniciativa. Muitos melancólicos poderiam ser grandes profissionais nas mais diversas áreas, mas morrem sem nunca ter tido a iniciativa de dedicar-se ao seu talento. Para educar um filho melancólico, é necessário incentivá-lo a agir, a se envolver com o que será estudado.


TEMPERAMENTO FLEUMÁTICO

O fleumático é aquele que dificilmente será excitado e quando algum estímulo o atinge, logo passa. Como consequência, ele não se interessa muito por estudos ou trabalhos, tampouco se entusiasmam com desafios, mas prefere o descanso, a tranquilidade. O que passa fora deles não os atinge, portanto é difícil que se movam por algo maior do que aquilo que atinja diretamente as suas rotinas. A vantagem do fleumático é que ele se mantém tranquilo perante as adversidades, insultos, fracassos. Educar o fleumático exige muito trabalho e paciência dos pais: é necessário explicar-lhes tudo e por repetidas vezes. Os fleumáticos normalmente se destacam em áreas em que a comunicação é mais importante que o conhecimento profundo sobre algum tema, como no comércio.

Temos que tomar muito cuidado para que, ao identificar os nossos temperamentos ou os de nossos filhos, não caiamos na tentação de utilizá-los como desculpas para nossos erros. Se o temperamento nos faz tender a um pecado ou um mal comportamento, temos que ter consciência dessa tendência e combatê-la com maior rigor ainda, temos que nos violentar por amor à nossa família e por amor a Deus. Se devemos ter esse cuidado conosco mesmos, tanto mais devemos combater as tendências ruins dos temperamentos de nossos filhos. Se nós deixássemos que o Victor Hugo agisse de acordo com as suas tendências temperamentais, nós simplesmente não o estaríamos educando. Portanto, a vantagem de identificar o temperamento dos filhos é saber precisamente qual o ponto que devemos nos ater para que ele se torne um homem virtuoso, ainda que seu temperamento o faça propenso a ser escravo de seus vícios.


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Rotina de um adolescente homeschooler

Nesta semana recebemos uma mensagem no facebook de uma leitora do blog que disse estar interessada em começar o Homeschooling com seu filho no ano que vem. O filho dela cursa o Ensino Fundamental II e, por isso, ela nos pediu para relatarmos nossa experiência e rotina, a fim de ajudá-la nesse árduo processo inicial onde a maioria se sente mais perdida que cego em tiroteio.

Eu fiquei um tempão escrevendo uma resposta para ela quando me dei conta que nunca havia contado aqui no blog nossa experiência na prática. Como pode ajudar a muitos, resolvi escrever aqui um breve relato de como fizemos e fazemos aqui em casa.

Como a maioria de nossos leitores sabem, tiramos nosso filho do colégio neste ano. Na escola ele estaria cursando o oitavo ano do ensino fundamental II. Mas, desde o ano passado, já começamos a mudar a rotina aqui em casa, a fim de ir nos preparando para este ano. Isso foi de fundamental importância.

Começamos diminuindo a televisão, o vídeo-game e introduzindo a leitura. A princípio foi difícil, mas também nos educamos para ajudá-lo. Passamos a não ligar mais a TV como antes e a ler perto dele para incentivá-lo. Impressionante como os filhos só dão valor a alguma coisa quando percebem que também damos valor àquilo. É como dizem: as palavras podem até convencer, mas o exemplo arrasta. Portanto, para praticar a Educação Domiciliar é fundamental ter consciência que a vida da família toda deve mudar. 

No início fixamos um horário de leitura para ele todos os dias. Era pouco tempo, mas depois fomos aumentando. Também passei a auxiliá-lo na realização das tarefas de casa e a acompanhar de perto o que ele estava vendo na escola. Nossa relação foi se estreitando e, com o passar do tempo, comecei a complementar seus estudos em casa. Assim, pude ir treinando e ele se acostumando com a mãe professora e com a nova forma de aprendizado. Isso também fez com que eu descobrisse muitas mentiras e absurdos contidos nos livros didáticos adotados pela escola. Eu explicava isso a ele e demonstrava o correto. Aos poucos, e a medida que ia assimilando, ele mesmo passou a desprezar o ensino que recebia na escola.


Com o passar do ano seu gosto pela leitura foi aumentando e sua relação com os estudos melhorou bastante: antes ele tinha aversão à frase "vai estudar", mas depois que passamos a sentar com ele e estudar junto, a explicar os conteúdos e mostrar o quanto estudar pode ser algo interessante, quiçá prazeroso, ele mesmo passou a dar muito mais valor ao aprendizado.

O fato de termos adotado esse "período de transição" fez com que o processo de mudança para a Educação Domiciliar integral se desse de forma natural. Quando chegamos no final do ano letivo, ele mesmo nos pediu para sair da escola e estudar em casa, pois percebeu que desta forma aprendia muito mais. Além do que, a escola passou a ser um lugar chato quando comparada à forma como conduzíamos os estudos em casa. No caso do nosso filho, vale ressaltar também que já havia um tempo que ele andava muito insatisfeito com a escola. Ele se queixava muito de seus professores e colegas. Como estudava em um colégio elitizado, para ele as meninas eram muito "mimadas" e os meninos "uns otários". Além dos professores serem "mal humorados" e "sem educação", como ele costumava dizer.

Outra coisa que melhorou muito foi sua saúde. No ano passado ele sofria com vômitos e diarreias pelo menos umas 3 vezes por mês, sempre durante as aulas. E o coordenador sempre me ligava para ir buscá-lo. A aversão que as crianças têm à escola é tão grande que muitas passam mal por estarem lá ou mesmo fingem que estão doentes como um ato de desesperado para fugir daquela tortura. Engraçado que neste ano ele ainda não passou mal nenhuma vez! (rs).

Então, como não poderia deixar de ser, depois de muitas pesquisas e estudos sobre a educação domiciliar, bem como depois de mais de seis meses de "treinamento", sentimo-nos, finalmente, preparados para tirar nosso filho da escola. Esse processo que antecede à decisão definitiva é muitíssimo importante, pois não basta simplesmente ir lá e tirar da escola. Temos que estar conscientes de nossa escolha e adquirir prévio conhecimento sobre a Educação Domiciliar. Não basta lermos blogs e ouvirmos das famílias que educam seus filhos em casa que é legal. Temos que estar convictos de que esta é definitivamente a melhor opção para nossos filhos. Também é importante estudarmos, pois seremos bastante questionados quanto à nossa decisão. E como convencer alguém de algo se nem nós mesmos estamos totalmente convencidos? Também é importante saber que essa escolha requer sacrifícios e que, portanto, se não estivermos dispostos ou prontos para nos sacrificar por amor aos nossos filhos, definitivamente não estamos prontos para dar esse passo.

Passado, portanto, esse primeiro momento, e quando finalmente tiramos nosso filho da escola para adotarmos a Educação Domiciliar integral, antes de mais nada, paramos para nos perguntar qual o TIPO de educação, afinal, almejávamos proporcionar a ele. Sobre isso recomendamos a leitura desse post aqui.

Vencidas, então, estas primeiras etapas, chegou finalmente o momento de decidir qual o método iríamos utilizar. Nas nossas pesquisas descobrimos que, assim como existem várias filosofias ou escolas de pensamento que são adotadas pelas instituições de ensino Brasil a fora, existe, também, uma variedade de métodos utilizados pelas famílias que praticam a Educação Domiciliar.



Algumas abordagens do Homeschooling


Diante de tudo que estudamos, nossa vontade era adotar o Método Clássico, mas por circunstâncias alheias à nossa vontade, optamos por algo que poderíamos classificar como Método Eclético, onde trabalhamos a abordagem tradicional (conteúdo ministrado nas escolas) com o clássico!

Escolhido o método, é hora de preparar um bom currículo e ir atrás de material. No Brasil, ainda enfrentamos muitas dificuldades nesse ponto. Em países como os Estados Unidos, por exemplo, existem uma infinidade de opções e de materiais prontos que podem ser adquiridos pelos pais homeschoolers. Tem para todos os tipos e gostos. Algumas famílias brasileiras fluentes em inglês optam por importar esses materiais. Mas, como sabemos que essa não é a realidade da maioria, as dificuldades só aumentam.



Para aqueles que optam pelo método tradicional, uma opção é comprar os livros didáticos referentes ao ano que seu filho estaria cursando na escola e segui-los (quem quiser saber quais são as diretrizes atuais do MEC para a educação básica - ensino fundamental e médio - clique aqui). Sei de famílias que optam por adquirir todo o material adotado por alguma escola renomada, de sua preferência, por exemplo, e assim vão seguindo os conteúdos dos livros didáticos ao longo do ano e se sentem muito satisfeitas com os resultados, já que o diferencial fica por conta da criança ser educada pela própria mãe - a qual conhece como ninguém as necessidades de seu filho - e de forma individualizada, o que proporciona a participação ativa da criança nos estudos, já que ela se sente livre para fazer perguntas e tirar dúvidas, o que normalmente não acontece no contexto de sala de aula, onde a maioria dos alunos têm vergonha e até mesmo medo de se exporem e serem ridicularizados pelos seus colegas.

Mas, independente do método escolhido, a verdade é que muitos pais bem intencionados travam quando chegam nessa parte de montagem do currículo e da seleção dos materiais que serão utilizados. No meu caso, como eu havia passado meses pesquisando e estudando o assunto, acabei descobrindo muita coisa legal e, com o tempo, fui criando pastas e mais pastas em meu computador, as quais estão recheadas de dicas de material. Essa parte de pesquisas é um processo importante que todos os pais que decidem educar seus filhos em casa devem passar. Ficar sentado na cadeira esperando que as coisas caiam do céu não leva ninguém a lugar nenhum e só mostra que os pais precisam, antes de pensar em educar seus filhos, se auto-educarem. Claro que nesse processo de pesquisas obtive ajuda de muitas outras famílias que me deram dicas preciosas. Mas ninguém me entregou um currículo pronto. Isso eu mesma fui montando.

Hoje em dia no Brasil existem diversos blogs sobre educação domiciliar, os quais estão recheados de dicas. Alguns deles vocês podem encontrar linkados aqui na parte lateral do nosso blog. Eu mesma passei meses lendo cada um deles. Há alguns, inclusive, nos quais voltei três anos e li TODOS os posts. Criei pastas por faixa etária e hoje tenho indicações de tudo quanto é coisa para ser feito desde o ventre materno. Isso mesmo. Desde o momento que descobrimos que estamos grávidas já existem indicações do que ler para nossa barriga! rs. E todo esse processo, além de fundamental importância, é muito rico e esclarecedor. E nos deixa cada vez mais seguras também.

Você pode estar aí pensando que não tem tanto tempo disponível para ler tudo isso. Eu também não tinha. A verdade é que eu levei quase um ano para fazer isso, mas eu havia feito o firme propósito de pesquisar o máximo que eu conseguisse antes de começar a praticar. Então, todos os dias eu usava o tempo livre que tinha para ler alguma coisa relacionada ao Homeschooling. Por isso acho que tudo depende da nossa força de vontade.

Mas, apesar de muito importante essa fase de pesquisas, se você realmente não tem como fazer isso e quer ir direto ao ponto e otimizar sua preparação, recomendo que façam o curso "Homeschooling 1.0" da Camila Abadie, do blog Encontrando Alegria. Além de abordar a história do Homeschooling, as metodologias e questões jurídicas, a aula 05 do curso é só sobre seleção de materiais. A Camila fica mais de duas horas indicando materiais que podem ser usados desde o nascimento do bebê. É uma verdadeira pérola! Mas para quem tem filho adolescente como eu e precisa partir desse ponto, apesar das dicas preciosas que ela dá para essa faixa etária, não há muita opção de material, vez que sua filha mais velha ainda está com 11 anos de idade.

O meu filho tem 13 anos e como havíamos decidido não deixar de dar o conteúdo que ele veria na escola, eu decidi comprar um material pronto, referente ao oitavo ano do ensino fundamental, o mesmo que seria utilizado na escola que ele estudava anteriormente. Eu já conhecia o material e, apesar de saber que ele continha uma certa carga de doutrinação ideológica (qual não tem?), devido a minha experiência no ano anterior, eu já sabia como contornar essa situação. A intenção era usar esse material mais como um norte a seguir e paralelamente ir suprindo suas falhas e carências com os diversos outros materiais que eu havia selecionado, bem como com outras ferramentas que eu também julgava eficazes.

Usei as férias de janeiro desse ano para fazer o plano anual de estudos do meu filho e para preparar tudo. Decidi que teríamos 41 semanas de aulas, então peguei o calendário de 2016 e separei 22 semanas no primeiro semestre e 19 no segundo. Normalmente é assim que as escolas fazem, então eu só copiei a ideia. Depois eu fui no índice dos livros que adotei e distribuí todo o conteúdo ao longo dessas semanas. Neste sentido, antes de começarmos o ano letivo, eu já sabia exatamente o que ele ia estudar em casa semana. Depois fiz uma lista de bons livros que ele deveria ler ao longo do ano como literatura obrigatória, além dos livros literários que íamos usar como auxiliares em nossos estudos. Essa lista eu fiz baseada em indicações de outras famílias homeschoolers para a faixa etária dele.

No que se refere à educação Clássica, apesar de não a termos adotado por completo, nós incrementamos alguns de seus princípios nos estudos do Victor Hugo. Para isso, fizemos o curso "A Formação Literária da Criança" e "Introdução a 'Os Lusíadas'", ambos do professor Rafael Falcón, onde tivemos uma base de como educar por meio de clássicos da literatura. Assim, meu filho tem uma aula específica para estudar o livro "Os Lusíadas" de Camões, além de aulas de Latim na Schola Classica com o professor Clistenes Fernandes, conforme eu contei neste post.

A verdade é que trabalhar o método clássico ao mesmo tempo que damos as matérias da escola nos fez perceber a riqueza que deixamos de oferecer a nosso filho quando o obrigamos a seguir livros didáticos. A vontade que temos é de jogar esses livros no lixo e mergulhar completamente no ensino clássico. Mas, prometemos que não deixaríamos de trabalhar com ele o conteúdo da escola, por isso vamos manter nossa promessa e continuar passando o que ele estaria vendo se estivesse matriculado em uma instituição de ensino. No nosso caso, não podemos abrir mão disso porque essa condição nos foi imposta para que pudéssemos educá-lo em casa, mas se vocês tem total autonomia na vida de seus filhos e ambos os pais estão de acordo, indicamos o método clássico de ensino de forma total e integral.



Uma das ferramentas que tem nos ajudado, e muito, na educação do nosso filho é o Kumon. Lá ele tem aulas de matemática, português e inglês. Para quem não sabe, o Kumon é uma metodologia que visa incentivar a criança a ter autonomia nos estudos e sua grande inovação está no fato de ensinar o aluno a se tornar confiante e capaz de enfrentar sozinho o desafio da conquista do conhecimento. O objetivo é desenvolver a autoconfiança, o interesse em estudar e aprender por si. Em quatro meses de Kumon as diferenças no meu filho são gritantes.



Quanto à nossa rotina de estudos, escolhi o período da manhã para nossas aulas. Acordo meu filho entre 07h e 07h30 da manhã. Tomamos café em família e depois que meu marido sai para o trabalho a gente começa. Antes de tudo, lemos o Santo do Dia e fazemos uma pequena reflexão sobre sua vida. Depois fazemos uma oração e começamos. As aulas são sempre muito produtivas e muitas vezes parece até um bate papo, pois meu filho é muito participativo. Ele faz mil perguntas e questiona absolutamente tudo. Muitas vezes não dou a resposta de cara, mas vou o conduzindo de maneria a ajudá-lo a encontrar a resposta por si mesmo. Uma vez ele me disse que nunca havia feito sequer uma pergunta em sala de aula porque tinha vergonha. Mas como estamos em casa, só nós dois, então ele não tem vergonha nenhuma e deixa que sua curiosidade nata o mova. Participando ativamente dessa forma, ele grava o conteúdo com muita naturalidade.

Antes de terminarmos a aula sempre passo exercícios de fixação. É quando o deixo sozinho pesquisando, a fim de encontrar as respostas. Como já mencionei acima, gosto de usar outras ferramentas que também ajudam muito, tais como documentários, filmes, linha do tempo, jogos, passeios e até viagens. Algumas vezes peço que ele descreva em forma de narração ou dissertação o que estudou no dia. Outras usamos a leitura de livros literários como forma de complementar os estudos.



O período da tarde é reservado para seus exercícios diários do Kumon, sendo que na terça e quinta ele tem aula presencial na unidade. Também há um horário pré-fixado para a leitura diária. E nas segundas, quartas e sextas, além do já mencionado, ele tem escolinha de futebol.

Meu filho NÃO é são-paulino, mas essa é a escolinha mais perto de casa

Ele pede para deixar claro que é CORINTHIANO

Já no período noturno, após as 18h, nas segundas e quartas ele tem aulas de violão em casa mesmo, com um professor particular. Nas quintas ele tem "Celebração da Palavra" com sua Comunidade na nossa Paróquia. E nas sextas ele tem catequese de Crisma.

E por mais que não pareça, todos os dias ele desfruta de tempo livre, que ele costuma preencher de diversas formas. Há dias que ele gosta de descer para jogar bola com os garotos do condomínio. Há dias que ele fica praticando violão. Outros dias que ele fica imerso em seu quebra-cabeça de duas mil peças. Também há momentos que ele engata uma leitura por livre e espontânea vontade. Algumas vezes, ele fica o tempo todo desenhando. Há dias que ele me pede para ir à sorveteria com os amigos. E há dias que eu libero o Netflix. Esse último eu tento controlar ao máximo porque ele é meio viciado em séries, tais como "The Walking Dead", "Supernatural", "Arrow", "Breaking Bad", e afins. E se eu não controlo, ele é que não vai controlar!

Praticando

Outro ponto importante nesse processo de aprendizado são as obrigações domésticas. Meu filho tem algumas tarefas que são diárias, como arrumar sua cama, jogar o lixo fora, estender as roupas e lavar louça. Mas isso não o impede de me ajudar quando preciso, como ir ao supermercado/padaria quando peço, guardar as compras, ajudar com o almoço, etc. Essa parte também é muito importante e não pode ser negligenciada de jeito nenhum.

Meu filho lavando louça

Por fim, o que posso dizer a todos vocês que pensam em começar a praticar a Educação Domiciliar é que, na prática, as coisas são muito mais simples do que parecem ser. E que, por mais que a gente planeje minuciosamente como as coisas serão, elas sempre mudam, e para melhor. É impressionante como vamos ganhando confiança e nos adaptando com o tempo, e como as coisas começam a fluir naturalmente. Também impressiona como nossos filhos mudam o relacionamento com os estudos e naturalmente vão levando as coisas mais a sério e se tornando cada vez mais responsáveis e autodidatas.

Estamos há apenas quatro meses estudando em casa e muita coisa já mudou. Seriam necessários vários outros posts para contar tudo para vocês. Inclusive quero deixar registrado aqui que nossa ausência no blog é justamente porque andamos meio atarefados colocando as coisas em prática. A minha rotina mudou completamente e ando bastante atarefada. Além das coisas de casa e da educação do Victor, eu e meu marido também temos muitas obrigações em nossa comunidade paroquial, o que demanda muito de nosso tempo, com a graça de Deus. E digo isto porque quero deixar claro a todos que não importa o quanto a pessoa se ache ocupada ou o quanto se ache incapaz. No final das contas, podemos resumir tudo em uma única palavra: VONTADE. Com um pouco de organização e planejamento e muita oração, vamos longe! Temos que nos perguntar: o que é mais importante para nós: a educação de nossos filhos ou nossos momentos de descanso e lazer? O que queremos com a educação de nossos filhos: dar a eles um diploma ou conhecimento? Qual conhecimento queremos oferecer aos nossos filhos: aquele que dá dinheiro ou aquele que o leva a Deus? Responder a essas perguntas é fundamental para a preparação para a Educação Domiciliar.   

Por que estudar Latim?

Dia desses postei no facebook uma foto do meu filho estudando Latim. Aproveitei a oportunidade e falei um pouco sobre os benefícios de estudar esta língua. Foi o post que mais repercutiu até hoje em nossa página, com 73 compartilhamentos até o fechamento desta matéria! (rs)

Tendo em vista o enorme interesse pelo tema, resolvi trazer o post aqui para o blog para aqueles que não tiveram a oportunidade de ver tal publicação. Segue bis in idem:


"Àqueles que me questionaram o porquê de estudar Latim, segue abaixo alguns pequenos trechos do Livro The Well-Trained Mind: A Guide to Classical Education at Home onde a autora explica a importância do ensino do Latim para as crianças:

'Por que se importar com o Latim? Trata-se, afinal, de uma 'língua morta' (expressão pejorativa); não há literatura sendo produzida nela, ninguém a fala ou faz negócios por meio dela. Nós nos importamos por uma série de razões.
O latim treina a mente para pensar de modo ordenado. A língua latina (já que está morta) é o idioma mais sistemático à nossa disposição. A disciplina de coordenar desinências e organizar a sintaxe (formas gramaticais) segundo conjuntos de regras é o equivalente mental de correr três quilômetros por dia. E, uma vez que o latim exige precisão, a mente latinizada acostuma-se a prestar atenção a detalhes – hábito que compensará especialmente quando for estudar matemática e ciências.
O latim melhora a habilidade no inglês. A estrutura gramatical do inglês é baseada no latim, bem como cerca de 50% do vocabulário inglês. O aluno que entende como o latim funciona raramente será confundido por uma sintaxe inglesa mais complexa ou por palavras inglesas obscuras.
O latim prepara a criança para o estudo de outras línguas estrangeiras: francês, espanhol e italiano são todas aparentadas com o latim. Mesmo línguas não-latinas podem ser aprendidas mais facilmente se o latim já tiver sido estudado. A criança que já foi provada na sintaxe latina entende os conceitos de concordância, flexões nominais, conjugações verbais e gênero gramatical, não importa em que língua esses conceitos venham a aparecer.' (Tradução: Rafael Falcón)

E, abaixo, um trecho de um post feito por Camila Abadie no blog Encontrando Alegria:

'Mas para quem permanece sem entender direito o motivo pelo qual decidimos oferecer o estudo do latim aos nossos filhos, listo aqui algumas das muitas vantagens que a língua de Cícero oferece:
- O estudo do latim facilita o aprendizado de praticamente qualquer outra língua que o tenha em sua raiz (o espanhol, o francês, o italiano, o romeno). Vale notar que grande parte do que há de melhor em literatura encontra-se em língua francesa;
- Por sua própria estruturação, o aprendizado do latim facilita a organização do pensamento, da fala e, consequentemente, também da escrita. Estudar latim é quase metade do caminho para o estudo da lógica;
- Possibilita o acesso, em primeiríssima mão, a obras, textos e documentos históricos sobre os quais a civilização ocidental foi erigida. Ou seja, minha filha poderá apropriar-se de verdade do que há de melhor no legado dos antigos, sem depender de comentadores e intérpretes nem sempre confiáveis;
- Restaurar, ao menos no plano individual, a antiga qualidade da educação brasileira. Sim, há menos de um século era possível encontrar pessoas que sabiam latim (e ainda um outro idioma, geralmente o francês) e que haviam recebido uma educação comum, acessível a todos (ou à maioria);
- Livre acesso aos textos, documentos, hinos e canções da nossa fé, a fé cristã, que ainda hoje vale-se do latim para expressar-se, transmitir-se e adorar a Deus.'

Por fim, segue uma foto do meu filho em sua aula na Schola Classica com o professor Clístenes Hafner Fernandes: